domingo, 19 de janeiro de 2014

PLIP - Projeto Leitura Inclusiva Partilhada

Ontem foi mais um dia especial na minha vida...

Vi concretizar-se o sonho que me fez nascer. Estive na apresentação pública do PLIP - Projeto de Leitura Inclusiva Partilhada. E é com esse projeto que justifico a minha ausência nos últimos tempos.
Tenho andado muito ocupado!
Faço parte da equipa que ajudou a fazer nascer mais 6 KITS multiformato. São SEIS projetos distintos, todos com características muito especiais. Vou contar-vos alguns pormenores interessantes sobre cada um deles.

Vou começar pelas obras originais... sim! O PLIP também tem obras originais!

O CORVO LARANJA 
O Corvo Laranja é um conto do Micael Sousa e fala da diferença. Por que razão haverão os corvos de ser negros? E será que são mesmo agoirentos e portadores de más notícias?
Este corvo é bem divertido, traz sempre boas notícias e aprende a gostar das suas próprias características.
Para o conheceres melhor decarrega-o no KIT PLIP005.


PASSAPORTE PARA A TERNURA

Outro conto original a integrar o PLIP é o Passaporte para a Ternura. É o KIT PLIP007. Este é um trabalho mesmo especial. Conta uma das muitas aventuras do Homenzinho Atarefado, amigo real da autora Maria de Fátima Costa. Este foi um trabalho partilhado por vários amigos da Fati (como lhe gostamos de chamar): o André Lopes, que ilustrou a obra, o Cláudio Góis que lhe deu voz, a Daniela e a Ana Rita. Este trabalho foi a concretização de um sonho antigo. Ficamos todos à espera das outras histórias que a Fati tem para nos contar.

NUM MUNDO ÀS ESCURAS
Uma grande equipa de gente gira apresentou Num Mundo às Escuras, mais um trabalho original do PLIP. O KIT PLIP006 conta a história de um menino chamado Argo. Percebi que não sou o único! O Argo, como eu, também é cego. As autoras do livro, a Estela Oliveira e a Olga Santos contam como ele aprendeu a movimentar-se dentro de casa. O que é lindo nesta história é ver como ele conhece a cor verde. E já agora... vejam o videolivro em LGP. Está brilhante!


O RIBEIRO QUE QUERIA SORRIR
Outro livro original apresentado ontem foi O Ribeiro que Queria Sorrir. É o KIT PLIP004. Este trabalho traz uma mensagem ecológica. Fala na poluição dos rios e de como pequenos gestos podem fazer a diferença. A equipa que transformou este livro em muitos novos formatos estava feliz com a experiência e prometeram criar mais histórias e mais KITs multiformato. Fico à espera!



O PRINCIPEZINHO
Deixem-me contar-vos agora um pouco sobre um livro que, não sendo original, foi totalmente novo para mim. Eu nunca tinha lido O Principezinho e muito menos tinha visto as ilustrações com os dedos. Foi maravilhoso! No Kit PLIP003 as ilustrações foram simplificadas e recriadas em materiais com diferentes texturas. Quando encontro soluções com tanta criatividade os meus dedos até dançam de alegria.



O PEQUENO TREVO
Há dois outros trabalhos que me encantam: O Pequeno Trevo e O Pequeno Trevo e os Amigos da Rua.  São os KITS PLIP008 e PLIP009. Os livros originais são da APPC de Leiria e a sua venda reverte a favor da Associação. Mas a generosidade de quem trabalhou fez com que também eles oferecessem o seu trabalho a todos que os queiram ler. Estas duas histórias estão agora à espera de novas leituras.


E pronto... em breve haverá mais notícias sobre o PLIP.
Agora, vou dormir!
Criar KITS multiformato é muito divertido, mas cansativo para um miúdo como eu.

domingo, 23 de junho de 2013

Livros a Mexer

Os dias correm tão depressa!

Já lá vai uma semana desde que me vi a dançar e ainda não tinha tido tempo para partilhar convosco as emoções vividas, no dia 16 de junho de 2013, no Teatro Municipal de Vila do Conde.

Que tarde especial!

A Teresa e o Pedro organizaram um workshop chamado "Livros a Mexer" no âmbito do
  
R  e  l  â  m  p  a  g  o
P r o j e t o  E d u c a c i o n a l

Trata-se de um projeto muito interessante promovido pela Ventos e Tempestades – Associação Cultural, que engloba as áreas da formação, divulgação e criação. 

Desta fez os meus amigos lançaram o desafio de me recriar através da dança. Foi assim que eles apresentaram a iniciativa:

Não ver com os olhos, mas ver com o coração e todas as outras partes do corpo. Descobrir a(s) história(s) dentro da história já lida e relida. Perceber melhor o mundo, com todas as suas diferenças.
Era uma vez…
O ponto de partida é o livro infantil “O menino dos dedos tristes”, que se desenvolve à volta da ideia da não visão, que agora se associa à dança criativa. É querer dar estímulo a atitudes mais inclusivas e à criação de atividades acessíveis a pessoas com e/ou sem necessidades especiais.

Por muito que eu vos conte, não conseguirei dar conta da magia que ali se viveu.

Partindo de um guião bem estruturado, a Teresa e o Pedro colocaram os meus dedos nas mãos de outros meninos que por sua vez os fizeram mexer e transportar a minha história para todo o corpo... a dança é aquela arte em que as palavras se perdem e se transforma em movimento. E eu dancei! Imaginem... eu dancei!!

Tudo começou com o toque mágico de um dedo!


Entre leituras e desenhos, eu e a Rita ali ficámos, olhando quietinhos para não incomodar...


Mas as emoções eram muitas... e à nossa volta tudo era movimento. Ora lento, ora rápido... deitados no chão, saltando no ar... de mãos dadas, livres como pássaros ou velas ao vento, os meninos mergulhavam no seu corpo par o descobrir pouco a pouco. Eram os dedos da mãos que se mexiam... eram os dedos dos pés que se libertavam, os braços que se viravam para o céu e os corpos que se atiravam por terra, para se enrolarem sobre si mesmo ou procurarem o abraço do outro. E tudo era feito com tanta ternura e com tanta emoção que nós ficámos tontos de tanta alegria!


Como são lindos os corpos que dançam!
Que privilégio é ser livro que se deixa abrir para ser lido com o corpo todo.
Já o disse outras vezes e torno a dizer: "sou um menino de sorte!"

Obrigada Pedro! Obrigada Teresinha! Obrigada papás e mamãs que levaram os vossos meninos para que eu os pudesse conhecer... e... Parabéns meninos! Os vossos dedos jamais serão tristes!


domingo, 5 de maio de 2013

No Verde Minho... em Viana do Castelo

Desta vez, a minha viagem levou-me à linda cidade de Viana do Castelo.
Nos primeiros dias de maio as portas e janelas estavam guarnecidas com ramos de delicados maios amarelos. Diz o povo que é para proteger contra as forças do mal... nada de bruxas nem maus olhados! É engraçado ver como as tradições se mantém e até mesmo as pessoas mais jovens repetem os gestos dos seus avós. Gostei de ver!
Mas voltando ao que me levou a Viana do Castelo...
Fui lá porque fui convidado pela Íris Inclusiva , uma jovem e dinâmica Associação a trabalhar com pessoas com deficiência visual. A Isabel Barciela, que lá trabalha, desdobrou-se em cuidados para nos dar as boas vindas e nos acompanhar ao longo de dois dias intensos e muito produtivos. Obrigada Isabel! Foram dois dias muito bem passados! Diverti-me imenso ao conhecer muitos meninos e meninas a frequentar as escolas:
EB 2e3 Dr.Pedro Barbosa
EB1 da Abelheira
EB/S de Arga e Lima...


E ainda houve tempo para uma sessão na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. Aí tivemos uma conversa de adultos. Mas tive o privilégio de conhecer melhor uma menina de quem agora sou amigo: a Marta. Ela agarrou em mim, na minha versão Braille e "devorou-me" mal me tocou. Ela até me pintou, usando um dos meus desenhos em alto relevo. Foi muito emocionante perceber que, afinal, há quem goste mesmo de me pegar ao colo.
E por falar em colo... a minha versão 3D foi um sucesso. Eu e a Rita andámos de mão em mão por onde passámos. Alguns meninos mais pequenos olhavam para nós com curiosidade, outros exploraram o nosso cabelo e a nossa roupa... e houve uma menina que teve medo de nós. Pois... os nossos olhos são grandes e expressivos e por vezes assustamos, mas não o fazemos por mal. A minha mãe Tânia diz que os nossos olhos servem para despertar consciências. Penso que em Viana do Castelo isso também terá acontecido. Os professores e os "meninos da 3ª idade" - foi assim que alguém chamou aos alunos do 12ª ano da EB/S de Arga e Lima - mostraram vontade de se juntarem ao Projeto PLIP - parece que também ali vou ter "irmãos multiformato". :-)! Estou ansioso por conhecê-los. Fico à espera de novidades. Para já um beijinho aos meus novos amigos e até breve!

domingo, 28 de abril de 2013

Terra de cheiro doce... mar calmo... sol intenso...

Esta semana estive em Cabo Verde... na Cidade da Praia...
Ainda antes de partirmos a minha mãe falou-me da cor do céu e dos cheiros que só existem em África.
Não imaginava que tais sensações fossem tão intensas!
Mal chegámos, já noite cerrada, fomos saudados por aquele cheiro doce que toca na pele e nela se entranha para fazer dançar o sangue nas veias. A minha mãe explicou que tal só acontece a quem é filho de terras africanas e se eu também o senti é porque em mim há marcas de um tempo distante em que a minha mãe e os meus avós por lá passaram.
Será essa a razão pelo qual me senti tão bem em Cabo Verde?
Talvez sim, mas muito mais aconteceu para que eu tenha gostado tanto desta viagem.


Conheci gente maravilhosa e uma realidade que me deu ainda mais vontade de existir!
Em Cabo Verde há muitos meninos de dedos tristes. Lá também há falta de materiais em formato alternativo para milhares de crianças (e adultos) com necessidades específicas.
Sim! Aprendi esse termo "necessidades específicas"... e gostei!
Afinal, necessidades especiais tem toda a gente... todos somos especiais à nossa maneira... mas certas pessoas têm necessidades específicas porque não vêem bem, não ouvem bem, têm alguma deficiência cognitiva ou qualquer outro tipo de incapacidade.
Não parece importante, mas a verdade é que as palavras que usamos podem fazer a diferença e eu vou ter cuidado para que as minhas palavras contribuam para a mudança de alguns paradigmas existentes.
Bem,... voltando a Cabo Verde...
Fiz muitos amigos... técnicos que trabalham em instituições de pessoas com deficiência, professores... os tais meninos de dedos tristes... e fiz amizade com um grupo de jovens muito especiais... alunos da Universidade de Cabo Verde que descobriram a magia da comunicação multiformato e multissensorial. Combinámos que iremos trabalhar em conjunto, em parceria alargada, para criar novos materiais que possam ser utilizados pela população Cabo Verdiana.
Estou ansioso por ver as coisas a acontecer.
Para já... aconselho-vos a saber mais sobre o PLIP - Projeto de Leitura Inclusiva Partilhada, pois isto de dinamizar novas formas de ler é mesmo giro!
Obrigada amigos Cabo Verdianos pelo vosso acolhimento! Espero aí voltar em breve...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Príncipes e Princesas

Há tempos visitei "O Lugar dos Príncipes", uma escolinha simpática, com meninos espertalhões e uma professora maravilhosa.
Cheguei lá um pouco receoso. Não imaginava o que me esperava. Um grupinho de príncipes e princesas, sentadinhos no chão, à espera do momento da leitura. Que bem comportados que eles são!
Quando me apresentei pensei... como irão eles compreender quem eu sou!?... têm 4 e 5 anos... e eu sou um livro para crescidos.

Como estava enganado!
Bebiam cada palavra que ouviam, mastigavam cada colherada de emoção com um sorriso no olhar. E quando a minha mãe perguntou "por que será que o menino tem os dedos tristes?" uma cara descarada respondeu... "porque é cego!"
E fez-se magia... depressa tudo mudou!
Todos falavam ao mesmo tempo, batiam-se para me explorar nas minhas muitas formas. E com cada minuto que passava percebia que aquele momento tinha começado muito antes de eu chegar. Uma mãe tinha me visto como um novo "amiguinho" para o seu filho; uma professora tinha me agarrado como argumento para mais uma "lição".
E quando eu voltei para casa é que o mais interessante aconteceu.
Parte de mim ficou para trás... e a minha existência passou a fazer ainda mais sentido.

Os meus novos amigos empenharam-se a fundo: pesquisaram na net, experimentaram novas formas de sentir e colorir o mundo e perceberam que há outros meninos para quem nada é impossível... assim haja pincéis e tintas das cores do arco-íris.
Obrigada amiguinhos, obrigada professorinha, obrigada mãezinha...
Hoje vou dormir mais feliz!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Transformações

Tenho andado caladito. Está frio... faz chuva e vento. O inverno está intenso.
Mas até gosto do inverno!
É aquele tempo que nos obriga a parar, a ficar quietinho no nosso canto, quem sabe se em "hibernação" para surgir numa manhã de primavera, com um gota de orvalho sobre a cabeça.
É isso! Hiberno!
Sinto-me como aquele bolbo de tulipa que se mantém quentinho no escurinho da terra para voltar a dar nas vistas com uma corola colorida e alegre, numa manhã de sol.
Mas conto-vos mais... a minha terra é meiga e terna. Ando nas mãos de criadores amigos que me afagam, compreendem e me transformam. Em breve voltarão a ver-me. A corrupiar no ar num passo de dança, a passar de mão em mão, em jeito de jogo, a conversar com grandes e pequenos em espaços em que não me esperam. Fiquem atentos! Nesses dias a minha alegria vai transbordar e o mundo vai ficar ainda mais lindo... não porque eu existo, mas porque gente linda faz de mim um menino de olhos felizes.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Identidade... não sou literatura infantil!

Cá estou de novo a refletir em voz alta... melhor em letras escritas.
Hoje trago uma questão profunda de IDENTIDADE.
Não sou um livro para crianças, embora a minha roupagem assim o indique.
Questões de marketing... é a explicação que me é dada. Tenho de me encaixar numa coleção, para me arrumar numa estante ou me mostrar numa montra, num "arrumar"  tipológico em que não me revejo.
Sim, o meu nome leva a que me coloquem nesse mundo da gente miúda, mas sempre me vi como um menino crescido. Aliás, a minha outra mãe, a Tânia, captou bem esse meu lado "velho"... olhem bem para a minha cara. Os meus olhos grandes não estão num rosto de criança. Nem eu me expresso com palavras simples e tão próprias dessas primeiras idades.
A minha mãe sempre me disse que eu nasci como um grito de alerta... não para as crianças! Essas estão naturalmente abertas àquilo de que eu falo, basta lhe dizermos baixinho que há meninos diferentes, como eu...
Eu nasci para ser lido por adultos. Há quem já tenha dito que eu sou "um poema", outros que sou um "hino à inclusão". Generosidade de quem assim me acha!... Sou sim uma expressão daquela revolta que se quer fazer ação! Não quero ser bonito, nem simples, nem fácil de ler. Quero incomodar. Quero abanar quem se deixa tocar... quero apenas mudar o mundo! Coisa pouca, coisa simples!
Sei que sou capaz!